A VIDA (Impressão do Moisés, de Menotti del Picchia) Eis a Vida: seguir umas quimeras vagas, lançando a mão em sangue aos cardos e aos espinhos rolar no pó; gemer; deixar pelos caminhos mil farrapos de carne e o sangue de mil chagas; sorver o horrendo fel que anda em todos os vinhos, o veneno que jaz em todas as teriagas; persistir, todavia, entre as chufas e as pragas dos que vão, a ulular, por trilhos convizinhos; chegar, enfim, exausto, ao fastígio da idade, ver desfeito o jardim de encanto que sonhamos, cair desfalecido e - supremo revés - olhando para trás, ver que a felicidade ficou além, no vale, onde, espectros, passamos, ficou além, na flor que calcamos aos pés... (Poesias, 1931.) Menotti Del Picchia
A VIDA
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Eis a Vida: seguir umas quimeras vagas,
lançando a mão em sangue aos cardos e aos espinhos
rolar no pó; gemer; deixar pelos caminhos
mil farrapos de carne e o sangue de mil chagas;
sorver o horrendo fel que anda em todos os vinhos,
o veneno que jaz em todas as teriagas;
persistir, todavia, entre as chufas e as pragas
dos que vão, a ulular, por trilhos convizinhos;
chegar, enfim, exausto, ao fastígio da idade,
ver desfeito o jardim de encanto que sonhamos,
cair desfalecido e - supremo revés -
olhando para trás, ver que a felicidade
ficou além, no vale, onde, espectros, passamos,
ficou além, na flor que calcamos aos pés...
(Poesias, 1931.)
Menotti Del Picchia